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A psicoterapia tem cuidado melhor da interferência dos fatores sociais na saúde mental

Atualizado: 21 de nov.


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Uma das dúvidas mais frequentes sobre psicoterapia gira em torno das diferentes “linhas de atendimento” que nós psis oferecemos. Poucas pessoas têm clareza sobre quais são elas e o que cada uma se propõe a fazer. Muitas pessoas que fazem psicoterapia preferem nem procurar saber detalhes. Importa mesmo é que a conversa no consultório seja boa, que ajude a pessoa com seus problemas, que o profissional compreenda o paciente e os dois se entendam! Tem uma certa sabedoria pensar assim… Essas diferenças entre diferentes formas de psicoterapia é algo um tanto técnico, com nuances bastante delicadas entre vários campos teóricos bem distintos e muitas e muitas práticas bem variadas!! No final das contas, se você tem sentido que seus encontros com seu terapeuta têm sido interessantes para você, para sua demanda de vida, tudo bem, a linha não vai ser um grande diferencial. Talvez você se beneficie muito experimentando mais uma alternativa em algum outro momento, para ter mais um ponto de vista. Mas isso não é determinante de sucesso. Seu sentimento pessoal, seu ponto de vista singular do processo é um termômetro dos mais importantes! 


Importa, entretanto, destacar um aspecto técnico valioso nesse momento de transformação das possibilidades de vida que temos experimentado atualmente. Em mais ampla escala, temos experimentado, como humanidade, um crescimento da mobilidade pelo planeta. A mobilidade geográfica infelizmente tem sido uma necessidade de sobrevivência na imensa maioria dos casos. São os casos de migração forçada por situações graves de necessidade de sobrevivência, de preservação da vida. Em muitos outros não há ameaça grave de sobrevivência. Há muitos casos de migração em que o mobilizador da mudança geográfica é o desejo de uma vida nova. Nessas situações usualmente estamos diante de ameaças de ordem psíquica, subjetiva, de perigo à saúde mental. Essa miríade de processos de mudança no território do planeta é um assunto tão importante quanto os casos de migração forçada mais drástica, evidente, motivada por guerras e catástrofes climáticas. A ameaça à vida psíquica também tem atingido multidões. Embora seja fato que os migrantes que não saem de seu país em condições de extrema precariedade de vida seja um privilégio, temos uma epidemia de agravos de saúde mental e violência psicológica impulsionando ondas migratórias imensas e nem sempre tão visíveis. 


Nesses casos, muitas pessoas têm privilegiadamente desfrutado de condições de iniciar a psicoterapia voltada para as situações específicas dos conflitos vivenciados pelos expatriados. Há muitas demandas específicas no campo da psicoterapia, por isso também surgem as tais diferentes “linhas de atendimento”. Podemos estar diante de assuntos de infância, diversos de questões de adicção, por exemplo. Mas as linhas conversam muito entre si. Os assuntos do humano sempre estão entremeados nas diversas instâncias da nossa experiência de convivência. Mas o fato é que a psicologia tem se voltado muito mais ao tratamento das condições de vida individuais ou nos pequenos núcleos de convivência. É uma realidade mais recente o crescimento da psicologia intercultural. E claro que esse campo cresce junto com a ampliação das experiências de vivência em diferentes culturas, entre indivíduos muito diferentes entre si convivendo muito mais do que já foi uma possibilidade em tempos passados. 


Estamos, os brasileiros, diante de um avanço crescente na perspectiva de psicoterapia voltada para a atenção às interferências sociais, culturais, históricas e de mediações tecnológicas e interculturais. O antigo recorte individual foi um foco, que muitas vezes tem limitado nossa atuação clínica na experiência contemporânea. A psicoterapia já está se reinventando! Atualmente as visões da psicologia social têm sido integradas ao campo das linhas de psicoterapia de forma muito contundente. As tais linhas são formas de atuar com diferenças técnicas e práticas em função de seu foco. Família, violência, infância, adolescência, relacionamentos de trabalho ou conjugais, envelhecimento, psicossomática, etc, etc, etc. 


Tenho entendido que a ampliação da mobilidade geográfica, social, cultural, assim como a imensa ampliação das possibilidades de comunicação nos dias de hoje têm trazido essa tendência de olhar mais atento aos aspectos que a psicologia sócio-histórico-cultural já estuda há tempos, mas agora, aplicada ao campo dos traumas e neuroses contemporâneas. Não podemos negligenciar mais as interferências desses fatores na psicologia do indivíduo nos dias de hoje. Esses interferentes têm se mostrado cada vez mais  fortemente definidores da vida das pessoas e precisam urgentemente ser levados em consideração teórica e prática da conformação dos tratamentos dos sintomas afetivos das pessoas, tanto quanto seus efeitos nas interações familiares e nos demais grupos sociais. 


A mobilidade social de que podemos desfrutar atualmente abre muitas possibilidades novas, assim como gera conflitos intrapsíquicos específicos, que precisam ser considerados em dimensões também novas no campo da psicoterapia. É fundamental integrar essas dimensões aos aspectos edipianos tão conhecidos de trabalhar os relacionamentos nas condições específicas de vivência do processo de imigração. A psicologia intercultural tem sido muito mais considerada nas conceituações da psicoterapia contemporânea, o que traz muitas vantagens para quem vive a situação de estrangeiridade e deseja contar com suporte emocional para o processo de reintegração social e cultural. Notícia boa para um mundo em que podemos desfrutar de tantas novas possibilidades de nos reinventar!!


 
 
 

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